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A Aliança Financeira de Glasgow para o Net Zero estaria realizando Greenwashing?

Daniel Sheanan Colmenero Lin

23 de jun. de 2023

Planejamento de Transição Race To Zero afasta investidores da indústria petrolífera

A Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) foi lançada em abril de 2021 pelo Enviado Especial da ONU para Ação Climática e Finanças, Mark Carney, e pela presidência da COP27, Alok Sharma, em parceria com a campanha Race to Zero da UNFCCC apoiada pela ONU, lançada por Nigel Topping e Gonzalo Muñoz por uma aliança estratégica de todo o setor financeiro para coordenar esforços visando acelerar a transição para uma economia global de zero emissões líquidas. O Enviado Especial da ONU para Ambição Climática e Soluções, Michael R. Bloomberg, juntou-se a Mark Carney como Co-Presidente na COP26 e trouxe Mary Schapiro, ex-presidente da SEC (Securities and Exchange Commission) e chefe do Secretariado do Grupo de Trabalho sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima, para servir como Vice-Presidente e Chefe do Secretariado da GFANZ. Membros inaugurais do grupo incluem alguns dos maiores bancos do mundo, como Bank of America, Santander e Natwest; gestores de ativos como a BlackRock; e grandes proprietários de ativos, como a Fundação Rockefeller. Esses membros principais orientam a estratégia e a direção da GFANZ e acompanham o progresso em direção aos seus objetivos.


 

A GFANZ foi fundada com a meta de expandir o número de instituições financeiras comprometidas com a neutralidade de carbono e estabelecer um fórum para lidar com desafios de toda a indústria relacionados à transição para emissões líquidas zero, ajudando a garantir que altos níveis de ambição sejam acompanhados por ações credíveis ao conectar a comunidade financeira à campanha Race to Zero, cientistas e especialistas alinhados à agenda de mudanças climáticas pela transformação induzida da sociedade civil. A GFANZ atuará como um fórum entre as Alianças de cada setor, abordando desafios que afetam todo o setor, e apoiando mecanismos de troca de conhecimento ao promover colaboração técnica apropriada para acelerar o alinhamento de investimentos e empréstimos com as metas de neutralidade de carbono. Realçar-se-á os esforços e conquistas coletivas do setor e das empresas individuais que adotam as ações climáticas mais ambiciosas. Uma congregação de formuladores de políticas e membros sêniores da Aliança apoiarão a discussão sobre como a ação do setor público e privado pode ser mutuamente favorável aos objetivos do Acordo de Paris.

 

GFANZ faz parte de uma parceria mais ampla com a Race to Zero, uma campanha global apoiada pela ONU para ajudar empresas, cidades, instituições financeiras e instituições educacionais a definir e atingir metas líquidas zero. A campanha Race to Zero é uma iniciativa global liderada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e apoiada pelo Secretário-Geral da ONU. Seu objetivo é reunir liderança e apoio de empresas, cidades, regiões, instituições financeiras e educacionais, investidores e outros stakeholders por medidas rigorosas imediatas para reduzir à metade as emissões líquidas globais de carbono até 2030 de acordo com o Acordo de Paris e atingir emissões líquidas zero em todos os escopos até 2050. A campanha incentiva os participantes a estabelecer metas ambiciosas e desenvolver planos de ação credíveis alinhados com os objetivos do Acordo de Paris.


 

UNEP FI REÚNE UMA AMPLA REDE DE BANCOS, SEGURADORAS E INVESTIDORES PARA PROMOÇÃO DE ECONOMIAS GLOBAIS SUSTENTÁVEIS POR TODO O SISTEMA FINANCEIRO

A Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI) https://www.unepfi.org/about/ conecta a ONU a instituições financeiras ao colaborar ativamente com a campanha Race to Zero. Fundada em 1992, a UNEP FI foi a primeira organização a envolver o setor financeiro em questões de sustentabilidade e incubou os Princípios para o Investimento Responsável, hoje o principal defensor mundial do investimento responsável. Instituições financeiras que fazem parte da rede da UNEP FI e se alinham aos seus frameworks de sustentabilidade, como os Princípios para a Banca Responsável e os Princípios para Seguros Sustentáveis, também podem participar da campanha Race to Zero. Ao aderir à campanha, as instituições financeiras demonstram compromisso pela transição para um futuro de baixo carbono. Através de sua colaboração com a campanha Race to Zero, a UNEP FI estimula a participação das instituições financeiras no estabelecimento de metas de emissões líquidas zero, implementação de estratégias relacionadas ao clima e avanço das práticas de finanças sustentáveis. Essa colaboração ajuda a alinhar os esforços do setor financeiro com ações climáticas mais amplas e facilita a mobilização de recursos financeiros para uma economia global mais sustentável e resiliente às supostas mudanças climáticas. Por mais de 30 anos, a iniciativa tem conectado a ONU a instituições financeiras de todo o mundo para moldar a agenda de finanças sustentáveis ao estabelecer os principais frameworks de sustentabilidade do mundo que auxiliam a indústria financeira a lidar com desafios globais ambientais, sociais e de governança (ASG).

 

Convocados por um secretariado sediado em Genebra, Suíça, mais de 450 bancos e seguradoras trabalham juntos para facilitar a implementação dos Princípios de Banca Responsável e dos Princípios para Seguros Sustentáveis, ambos da UNEP FI, bem como três alianças em prol de emissões líquidas zero convocadas pela ONU. As instituições financeiras colaboram com a UNEP FI voluntariamente, sendo auxiliadas na aplicação dos frameworks do setor e no desenvolvimento de orientações e ferramentas práticas para posicionar seus negócios rumo à transição para uma economia sustentável e inclusiva. A GFANZ agora inclui mais de 550 firmas-membro de todo setor financeiro global, com mais de US$ 130 trilhões em ativos sob gestão e consultoria com o objetivo conjunto de reduzir suas emissões a zero líquido até 2050 e mitigar as mudanças climáticas. Como estipulação de adesão à GFANZ, espera-se que os membros assumam e mantenham compromissos com metas líquidas zero baseadas na ciência em todas as emissões de escopo 1, 2 e 3 até 2050, com uma meta intermediária em 2030.


 

PLANEJAMENTO DE TRANSIÇÃO RACE TO ZERO TEM BRECHAS PARA GREENWASHING?

Greenwashing é uma prática em que empresas ou organizações fazem alegações enganosas ou exageradas sobre seus esforços ambientais, com o objetivo de parecerem mais sustentáveis ou ecológicas do que realmente são. Isso pode incluir o uso de marketing ou rótulos "verdes" para promover produtos ou serviços como ecologicamente corretos, sem que essas práticas sejam efetivamente benéficas para o meio ambiente. Por exemplo, uma empresa pode afirmar que um produto é "natural" ou "amigo do meio ambiente" sem fornecer evidências claras ou com práticas insustentáveis em outras partes de sua operação. O greenwashing é visto como uma maneira de atrair consumidores preocupados com o meio ambiente, mas sem um compromisso real com a sustentabilidade.

 

Os critérios atualizados estabelecidos pela Race to Zero em junho de 2022 significavam que os membros da GFANZ não poderiam mais fazer novos investimentos em combustíveis fósseis, como carvão, gás e petróleo, a partir de junho de 2023, e só poderiam manter seus investimentos atuais em petróleo e gás, sujeitos a uma eventual eliminação desses ativos. Seu novo documento de planejamento de transição com 113 páginas objetiva melhorar as diretrizes atuais e evitar o greenwashing, mas críticos acreditam que ainda existem muitas brechas, permitindo que os membros façam greenwashing. Outros veem as novas regras da GFANZ como um passo na direção certa, afirmando que as novas regras esclarecem como os membros devem se afastar dos combustíveis fósseis. No entanto, a GFANZ lidou com outras situações de greenwashing relacionadas à falta de exigência de verificação por terceiros do progresso de seus membros e acusações de falta de transparência.



GFANZ CEDE À INDÚSTRIA PETROLÍFERA

Em outubro de 2022, a GFANZ abandonou a exigência de que todos os seus membros se unissem à campanha Race to Zero e, em vez disso, anunciou que seus membros seriam apenas encorajados a se associar à Race to Zero. A GFANZ mudou sua posição devido ao Race to Zero ter fortalecido critérios em junho de 2022 (com uma modificação adicional em setembro para abordar preocupações com a legislação de concorrência) para esclarecer que manter o aquecimento abaixo de 1,5°C significa "reduzir gradualmente e eliminar todos os combustíveis fósseis não capturados como parte de uma transição global justa". Os novos critérios também afirmam que cada membro da Race to Zero "deve eliminar seu desenvolvimento, financiamento e facilitação de novos ativos fósseis não capturados".

 

Esse distanciamento à Race to Zero ocorreu em resposta à pressão dos bancos americanos que enfrentam ameaças, inclusive ações judiciais, de políticos e figuras públicas nos Estados Unidos que contestam a existência de uma emergência climática. Esses ataques aos bancos americanos ocorrem mesmo apesar do fato dos bancos continuarem a injetar centenas de bilhões de dólares na indústria de combustíveis fósseis e não mostrarem sinais de intenção de adotar medidas significativas para reverter essa situação. Os bancos optaram por resistir à NZBA (Aliança Neozelandesa de Bancos) e à GFANZ e insistir de se afastarem da Race to Zero.

 

Quando os investidores da indústria de combustíveis fósseis são os mesmos que estão dirigindo a agenda de emergência climática, há o risco do negócio se transformar numa organização de fachada com fins políticos ao invés de um interesse genuíno em sustentabilidade. Forçar a crença numa emergência climática tem como objetivo a adoção de políticas supranacionais para forçar o cumprimento das metas da AGENDA 2030. A cúpula da governança global está ciente de que se os rumos da agenda forem deixados ao sabor dos investidores, não haverá redução da emissão de gases do efeito estufa. Atingir as metas do Acordo de Paris não é nada fácil, afinal. Todavia, há outros meios draconianos de forçar a redução das emissões em andamento, tais como o forcejo da reversão do crescimento da população global que já está ocorrendo, bem como a extinção da moeda física e a implantação de identidades digitais acopladas às contas de usuários que possibilitará um controle mais rígido sobre a pegada de carbono dos investidores.

 

 

COMO EMISSÕES FINANCIADAS SE RELACIONAM COM A GFANZ?

As emissões financiadas são as emissões de gases de efeito estufa relacionadas a investimentos, empréstimos e outros serviços financeiros. Para os membros da GFANZ, a maioria de suas emissões provém de emissões financiadas, também conhecidas como Escopo 3 Categoria 15: Investimentos. Na verdade, as emissões financiadas representam mais de 700 vezes as emissões operacionais (Escopo 1 e 2) para instituições financeiras que divulgaram suas emissões financiadas para o CDP. Atualmente, apenas 25% das instituições financeiras que relatam suas emissões para o CDP informam suas emissões financiadas. Isso cria uma lacuna significativa na maioria das pegadas de carbono das instituições financeiras, contribuindo para acusações de falta de transparência. À medida que os membros da GFANZ buscam reduzir suas emissões alinhadas com uma meta de emissões líquidas zero, a medição e divulgação de emissões financiadas serão fundamentais antes que eles possam começar a reduzir essas emissões por meio de financiamento verde e outras estratégias de descarbonização de portfólio. Grupos como a GFANZ e suas afiliações mostram que a medição, gestão e redução do carbono são agora partes essenciais na prestação de serviços financeiros. No entanto, a grande maioria das instituições financeiras ainda está nas fases iniciais da medição de seu impacto climático e da redução de suas emissões.

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